Não é de hoje que a morte de um personagem é tratada como
algo ignorável nas mesas de RPG. Muitos se esquecem que aquele personagem no
minuto em que surgiu na aventura já faz parte da história e, mesmo morto, ainda
pode influenciar no destino dos aventureiros.
Vejamos as consequências da morte de um personagem e as
reações que ela pode causar nos companheiros do herói que se foi.
Luto
O luto pode ser um sentimento poderoso para a trama. Um
companheiro de luto faria “quase” qualquer coisa para ter seu companheiro de
viagem de volta, esse “quase” limitado apenas por sua índole e seus recursos.
Oportunidades de ressurreição, magia negra, tecnologia
proibida e até mesmo invocações perigosas poderiam ser particularmente tentadoras
ao personagem.
O Mestre que explorar tal fraqueza terá em suas mãos inúmeras
possibilidades para estender a aventura ou até criar diversas outras em
paralelo. Afinal, nenhum caminho para ressurreição, se existir, é um caminho fácil.
Seja ele trilhado por quem foi ou por quem ficou.
A busca por ingredientes, peças, pessoas ou até mesmo conhecimento
são uma aventura a parte e podem até mesmo incluir provas morais e desafios
divinos em alguns cenários.
Ódio ou Remorso
Aquele que poderia ter salvo o companheiro de seu fim
trágico, pode acabar se corroendo de sentimentos ruins pelo resto da vida. Se isso
trouxer a tona um ódio contra si mesmo por ter falhado ou um ódio contra toda
humanidade, o personagem sobrevivente pode ter alterações bruscas em sua personalidade e em seus objetivos de vida.
Em sequência a uma tragédia o personagem pode se tornar amargurado e cruel, perdendo até mesmo seus princípios mais básicos
por ódio ou por ter perdido a esperança em si mesmo, não se vendo merecedor de
uma vida tranquila.
Ou até, se adotar uma causa mais nobre, poderá acabar
se tornando um “vingador”, lutando para que o mundo não precise passar pelo que
ele passou.
O Mestre terá em mãos um personagem instável mas
possivelmente divertido para a mesa e para o jogador que interpreta-lo. Quando
o luto se for e só restar um aventureiro violento e de humor contestável, até
mesmo um passeio no parque poderá se tornam uma aventura com a menor das
provocações.
Quando este personagem não deixa o luto de lado e foca sua
violência no causador de sua desgraça isso nos leva a...
Vingança

Esse homem faria tudo pra por seu inimigo em igual ou
pior desgraça, e é nesse momento que o “lado negro” lhe estende a mão.
Quem busca por vingança tão cegamente não pensa em consequências
ou custos e isso o torna muito vulnerável a influências externas tendo ou não o
inimigo em comum.
Criaturas teriam seus pactos mais facilmente aceitos e os
termos do “contrato” sequer seriam lidos. Tecnologias ainda não testadas e
armas nunca antes manuseadas poderiam agora fazer parte dos sonhos vingativos do personagem.
O Mestre tem então
a oportunidade de inflar o poder da aventura e até leva-la a níveis
catastróficos para a população do cenário em que o jogo ocorre. Deuses
malignos, ou não, podem se envolver e o inimigo pode ser maior que o esperado.
Vale lembrar que a vingança pode ser um ciclo e a morte
do inimigo pode despertar a vingança no coração de um dos seus companheiros,
tornando assim a destruição, de certa forma, interminável.
O Ultimo Pedido
O ultimo pedido de um companheiro a beira da morte pode
ser algo muito difícil de negar. Porém, esse pedido pode ser mais complicado do
que o esperado.
Cuidar de um familiar que vive longe, concluir um objetivo
que o amigo não mais poderá completar, ou até mesmo levar noticias sobre sua
morte a seus pais do outro lado do continente.
É comum o balbuciar de algumas palavras antes do fim
trágico, iniciar uma longa jornada para um grupo de aventureiros. Coisas como um
tesouro escondido, uma emboscada na floresta ou até mesmo um golpe de estado planejado pelo irmão mais novo do príncipe podem ser a ultima mensagem do companheiro que
garantirá o sucesso da aventura.
Herança
O que o personagem deixa pra traz depende dele, mas nem
sempre o item está por perto e as vezes é valioso demais para ser ignorado. Um
item valioso que circula na família é um exemplo, e tanto a jornada para
busca-lo quanto as consequências de possui-lo podem render grandes aventuras.
Itens muito valiosos no cenário ou artefatos amaldiçoados
podem tornar a vida do grupo um tanto mais agitada.
Objetivos Compartilhados
Os objetivos em vida podem também influenciar toda uma
nação, já vimos casos como esse na história, onde um mártir da inicio a uma
revolução que já se encontrava prestes a explodir.
Aventureiros não precisam morrer atoa, nem devem. O Mestre
pode e “deve” fazer com que o simbolismo da morte de um herói guie outros a uma
jornada virtuosa buscando o objetivo pelo qual o herói lutava.
O Retorno
No caso da morte do grupo, além das influências supracitadas na população, os personagens podem se ver em uma situação inesperada mas, que lhes dá a chance de voltar a suas vidas.
Jornadas pelo submundo, batalhas contra bestas infernais
e provas de merecimento sempre poderão surgir para que os heróis retornem, cabe
ao Mestre ser criativo. Lembrando que com criatividade até mesmo um aventureiro
sobrevivente pode participar da aventura com seus companheiros mortos.
Nunca permitam que a morte de um personagem passe em
branco, sempre haverão consequências seja lá qual for a origem ou a causa da morte do personagem,
isso é valido pra NPCs inimigos também, que quando mortos podem despertar algo
em seus seguidores.
* * * * *
Espero que não tenhamos mais a morte dos personagens como
só mais uma ficha a se descartar. Em um mundo de aventuras, a morte pode ser
apenas o inicio.
"Morrer seria uma grande aventura"
Peter Pan
Como a morte dos personagens tem sido tratada na sua
mesa? Compartilhe conosco nos comentários.
Até