Personagens com altos níveis de Inteligência (IQ) não são
tão comuns, pelo menos não com esta característica em evidência. Interpretar
uma inteligência abaixo da sua é fácil e geralmente também muito engraçado, mas
quando a IQ do personagem supera a sua eis que surge o verdadeiro desafio. Como
pensaria um ser de inteligência superior a sua?
Vou tentar citar modos, não de pensar como um gênio (seria
rico se soubesse essa fórmula), mas de parecer pensar como um. São dicas
puramente interpretativas, ou seja, o sucesso das tarefas do seu personagem
perante os desafios também depende de você. Mas vamos ao que interessa.
Teorias
O que, creio eu, é comum numa mente geniosa e única são as
teorias mirabolantes e a criatividade de pensar “fora da caixa”. Um gênio não
se deteria por regras situacionais.
Boa parte das limitações de uma situação são impostas por
nós mesmos então, o primeiro passo para ver através dos olhos de um “Gênio” é
se libertar de regras que não foram impostas pelo Mestre. Se o Mestre não disse
que algo é impossível, por que não sugerir que tentem?
Não é por que a solução proposta é improvável que ela será
impossível, um gênio não se importa com este tipo de erro.
Uma falha ainda é uma descoberta, como disse Thomas
Edson “Eu não falhei, encontrei 10 mil soluções que não davam certo.”.
Abuse das teorias, por mais improváveis que sejam afinal, o
gênio do jogo é você.
Quem vai discutir?
O "Método Científico" é uma conjunto de regras pra se solucionar um problema com a ciência.
Consistem em 6 fases:
- Observar o problema.
- Listar os fatos envolvidos.
- Criar hipóteses ou soluções para o problema.
- Escolher a hipótese mais provável.
- Testar a solução proposta.
- Criar novas hipóteses caso o resultado seja negativo.
Ou seja, você observa o problema proposto pelo Mestre e pergunta sobre todos os fatos envolvidos com ele, depois cria possíveis soluções e as testa com cálculos (um teste de Inteligência e o Mestre diz se funcionaria ou não) ou testa tentando realmente realiza-las. Se ainda não resolver o problema crie novas soluções baseadas nas falhas da primeira.
Mesmo que não funcione para resolver o problema do grupo, ainda assim você terá interpretado como um gênio, não é verdade.
Outro principio usado na ciência, conhecido como a Navalha de Ockham, utilizado como base para o pensamento de nada mais nada menos Sherlock Holmes, um dos personagens mais geniais da literatura.
A navalha de Occam segue a risca a chamada “Lei da Parcimônia” que diz:
“As entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade.”
Ou seja, não tem por que complicar o que é simples. A solução mais óbvia geralmente é a correta.
Esta piada "Sherlockiana" explica bem esse princípio:
* * * * *
Sherlock Holmes e Dr. Watson foram acampar. Depois de uma boa refeição e uma garrafa de vinho deitaram-se para dormir em sua barraca. Algumas horas depois, Holmes acordou e cutucou seu fiel amigo.
- Meu caro Watson, olhe para cima e diga-me o que você vê.
Watson respondeu:
- Eu vejo milhares e milhares de estrelas.
Holmes pergunta a seguir:
- E o que isso lhe diz?
Watson ponderou por um minuto.
- Astronomicamente, isto quer dizer que há milhares de galáxias e potencialmente bilhões de planetas.
Astrologicamente, observo que Saturno está em Leão e teremos um dia de sorte.
Horologicamente, deduzo que são aproximadamente 3h15 pela altura em que se encontra a Estrela Polar.
Teologicamente, posso ver que Deus é todo poderoso e somos pequenos e insignificantes.
Meteorologicamente, eu suspeito que teremos um lindo dia amanhã. E a você, o que diz?
Holmes ficou um minuto em silêncio, então falou,
- Watson, meu caro. Isso apenas significa que alguem roubou nossa barraca!!!
* * * * *
Se expressando como um gênio
Falar como um gênio não é difícil, afinal ninguém deve ser
capaz de entender a maioria do que ele diz. Use palavras compridas ou até
invente-as, se te perguntarem diga que pertence a outro idioma ou é um termo
cientifico de outra cultura (que você também pode inventar na hora), quem irá
contradizê-lo?
Escolha o modo mais complicado, comprido e até confuso de
dizer ou responder algo. Deixe o modo simples de dizer pra quando perguntarem:
O que? Repita por favor.
Misture assuntos diversos numa mesma frase, como se sua
mente fervilhasse teorias e idéias a cada milésimo de segundo, volte atrás no
que disse mesmo que não tenham entendido da primeira vez, as idéias são tantas
que a cada segundo surge uma nova mais adequada para o momento.
Por fim dê sua
verdadeira teoria (que como disse antes será a mais simples ou a mais
improvável) usando a forma confusa de explicá-la primeiro e guardando a simples
para quando as dúvidas surgirem.
Anote antes numa folha, varias palavras complicadas e frases
sem sentido e as combine durante o jogo, anotar algumas filosofias ou trechos
de livros intelectuais diversos também pode ser interessante, afinal que gênio
não cita livros complexos durante o
jantar.
Costumes de um gênio
Gênios tendem a loucura e falar sozinho é algo comum entre
eles. Discuta teorias consigo mesmo e até peça a opinião dos outros personagens
para o assunto, não saberão responder mesmo (afinal nem você sabe o que seu personagem está
dizendo).
Gênios por terem muitas idéias e pensamentos brotando
costumam manter um caderno de anotações, caderno este que será incompreensível
pra qualquer outro ser com inteligência inferior a dele.
Se alguém disse algo, anote, por mais bobo que seja. Assim, sempre parecerá que sua mente torna tudo
útil e justificável, mesmo que em um universo paralelo inexistente você pode
provar que aquela loucura é possível.
Vale lembrar que muitos homens da história, considerados gênios pelo mundo, tinha dificuldades com coisas que para as outras pessoas eram simples. Albert Einstein e Thomas Edison, por exemplo, tinham dislexia (dificuldade na compreensão de símbolos gráficos, ou seja, dificuldade para ler).
Einstein era considerado lento de raciocínio quando criança e só foi completamente alfabetizado aos 9 anos de idade.
O contraste gerado por responder maravilhosamente bem questões complexas e se confundir com coisas simples enfatiza ainda mais a genialidade do personagem. Coisas simples pra um gênio podem ser mais complexas do que você imagina.
Tente ver as coisas não pela sua exata função mas por aspectos "científicos" que costumamos ignorar e o gênio não.
Um lápis, por exemplo, não é apenas um lápis. Ele por si só possui diversos materiais em sua composição e passou por diversos processos químicos e mecânicos pra se tornar o que é.
Quando usado ele possui um angulo perfeito para escrita, o grafite tem de estar em atrito com a folha, há uma medida de Força contra a folha, isso é Física, e por que o grafite "pinta" a folha?
Quando o lápis não escreve em alguma superfície você simplesmente desiste ou muda de ferramenta, mas e o gênio o que pensaria do assunto?
Um gênio poderia ter a mente fervilhada por essas ideias ao ver um lápis. Pensando assim nem precisa imaginar coisas simples sendo difíceis, pois elas já são.
Imagine os cálculos de física que o seu cérebro realiza ao atravessar a rua em segundos, medindo o tempo, a velocidade e a distancia dos carros passando e otimizando sua caminhada para que você não seja atropelado.
Já não é algo tão simples não é mesmo.
Gênios são, por natureza, curiosos e imaginativos e interpretar isso pode ser muito divertido.
Um empurrãozinho do Mestre
Se houver alguma situação especial durante a aventura o
Mestre pode achar uma boa idéia “soprar” alguns acontecimentos futuros para o
jogador que interpreta o gênio, personagem este que soltara essa informação de
uma forma única e confusa, como já foi descrita aqui, evitando assim o completo
“extra-jogo”.
Um gênio numa caravana poderia muito bem usar seus
conhecimentos geográficos, culturais e meteorológicos para prever uma tormenta
em sua jornada, ou até mesmo um ataque de criaturas típicas daquela região.
Uma pequena informação do Mestre como:
No meio da viagem vocês serão atacados.
Pode virar um discurso incompreensível onde a população
local, a posição das dunas de areia, a direção do vento, as características
incomuns do solo, a rotina de viajantes do local e diversas outras teorias com base
em fatos óbvios, e pouco discutíveis, podem apontar para a presença de um povo
agressivo no caminho.
A informação foi dada, descoberta digna de um gênio.
Descoberta esta que pode não ser tão precisa, o Mestre não
precisa dar as informações corretas e sim as esperadas para o momento. Uma
pausa para almoçar mais cedo pode fazer com que os atacantes encontrem outro
grupo primeiro, por que não?
O Mestre deve se manter atento a fatores imprevisíveis do
cenário. O gênio por mais inteligente que seja só cria teorias através dos
fatos vistos por ele. Algo oculto ou completamente inesperado pode fazer com
as “previsões” do gênio falhem.
O personagem quando falhar deve agir como um verdadeiro
gênio, teorizando as possibilidades de sua falha e os possíveis motivos que a
causaram.
Sim, eu sei. Continua sendo difícil interpretar níveis superiores de inteligência, mas eu espero que com essas “dicas” a coisa possa fluir com mais facilidade e gerar algumas situações memoráveis na aventura.
E você, já fez algum personagem neste estilo? Como foi? O Mestre soube lidar com ele?
Alguma dica que não mencionei? Cometi algum erro?
Fiquem a vontade e comentem. ^ ^