-A+Adomingo, 1 de janeiro de 2012

Avatar

A maldição do Suja-Fichas


Fala polvo!

Hoje vou falar de um assunto muito polêmico (MAMILOS!!). Muitos narradores procuram bolar a aventura pra colocar todos os jogadores à prova, isso os estimula a criar personagens mais elaborados e versáteis, pra conseguir superar os desafios com estratégia ao invés de simplesmente sair quebrando tudo (isso também é legal, mas não é a única coisa atraente no RPG). Nesse tipo de aventura cada personagem é igualmente importante pra se obter sucesso (ou fracasso) na missão, mas o que diabos o Mestre dos Magos tem a vem com isso? O que isso tem de polêmico? Que porra é essa de Suja-fichas? Calma que eu já explico...


 O Mestre dos Magos, pra quem não sabe, é esse carinha da imagem do post. Um mago velhinho do desenho Caverna do Dragão, que tinha a irritante mania de aparecer do nada, dar um trabalho pros heróis e sumir repentinamente (muitas vezes quando a chapa esquentava). O alvo do meu post de hoje é uma criatura que supostamente joga RPG, mas só dá as caras quando não tem mais nada pra fazer. Ela simplesmente aparece, preenche uma ficha, joga uma ou duas vezes e depois some, deixando o rojão na mão do mestre e do resto do grupo. Notou alguma semelhança entre essa criatura e o Mestre dos Magos? Pois é... O nome da criatura é Suja-fichas!

O Suja-fichas típico prefere ensaiar com a banda, ir ao clube nadar ou até tomar uma cervejinha, deixando o RPG como segunda opção (ou aparecendo bêbado pra jogar). Ele desestrutura campanhas inteiras, já que muitas vezes a narrativa precisa ser desviada pra que ele possa participar. Ele também afeta o andamento do jogo de maneira brutal, seja direta ou indiretamente. Vou dar dois exemplos práticos pra que possam entender:

Indiretamente: o Suja-fichas chegou pra jogar no grupo que eu tava participando e criou um paladino de Pelor (pra quem não sabe, Pelor é o Deus do Sol no D&D e seus paladinos estão entre os homens mais justos e honrados do mundo). No decorrer do jogo meu personagem deixou de realizar certas ações porque tinha um paladino extremamente leal no grupo. Como eu iria torturar um prisioneiro pra extrair informações, se o paladino certamente tentaria impedir esse tipo de atitude?

Na sessão seguinte ele não voltou e passamos grandes dificuldades que seriam evitadas com o interrogatório do prisioneiro.

Diretamente: o Suja-fichas era um samurai e o grupo estava invadindo um templo amaldiçoado, os personagens se dividiram pra explorar melhor o local e o Suja-fichas encontrou duas tumbas numa sala, com uma katana presa no chão entre elas. Ao invés de chamar o resto do grupo pra examinar aquela situação, ele tentou pegar a katana e rompeu o selo que prendia um demônio ancestral, que acabou matando dois personagens antes de fugir.

Na sessão seguinte ele não voltou, mas dois personagens estavam mortos, o anti-cristo estava a solta e a missão tinha falhado miseravelmente.

Esse tipo de “jogador” sempre ferra a campanha, mas é complicado lidar com ele porque às vezes é um grande amigo da galera. Infelizmente, ser RPGista não tem a ver só com ser “gente fina”, tem a ver com compromisso e consideração com seus amigos. Se você faltar na pelada do campinho qualquer um que esteja por ali batendo orelha pode te substituir, mas não é tão fácil assim achar outro jogador de RPG.

O jogador precisa ter consciência de que mesmo que ele não possa ir, os amigos dele estão esperando. Se o mestre souber, antes do dia do jogo, que você vai faltar pra ir tomar umas com a turma da época da quarta série, dá pra ele adaptar a história e consumir com seu personagem por um tempo. Se você ta ficando sem tempo pra jogar por causa dos ensaios da sua banda nova, avisa que vai parar de jogar pro mestre poder dar um destino pra campanha sem seu personagem. Se hoje ta chovendo e não dá pra ir nadar no clube, avisa uma horinha antes que você ta indo jogar RPG com a turma, assim o mestre pode bolar uma one shot pra que você não fique de fora da brincadeira. O que não pode acontecer é você firmar um compromisso que sabe que não vai cumprir.

Minha dica quando o jogador é um troll dos infernos que gosta de pegar a galera de surpresa é bem simples: corta o cara. Fala assim: “Eu até gostaria que você jogasse, mas você só aparece quando não tem mais nada pra fazer... Eu tive um trabalhão pra montar essa campanha e sei que você não vai levar a sério. Se tivesse me avisado que viria uma horinha antes eu até bolava alguma coisa pra você jogar, mas pra nessa campanha aqui não vai rolar... Na moral, se quiser assistir, puxa um banquinho”. Eu sei que é chato excluir um amigo de uma atividade de grupo, mas é bem melhor sacrificar a diversão de um cara do que deixar que ela prejudique a diversão do grupo inteiro.

Grande abraço pessoal, obrigado pela atenção e feliz 2012!